Acordei 04:50 em uma parada de ônibus, rumo a Hiroshima.
Fiquei fazendo uma retrospectiva dos lugares que trabalhei, desde o tempo do
primeiro estagiário, até meu último emprego. Relembrei do tanto de pessoas que
conheci, das burradas, dos acertos, das gafes, enfim, dos acontecimentos que me
marcaram e ajudaram de alguma forma a me formar, apesar de estarmos sempre em
formação. Não sei dizer porque isso tudo veio a minha cabeça, ainda mais 05:00
da manhã, mas foi legal.
Cheguei em Hiroshima e peguei o ônibus de turismo que tinha
comprado por apenas JPY100, junto com a passagem de ônibus de Osaka para
Hiroshima, e teria a direito a entrar e sair desse ônibus quantas vezes
quisesse durante o dia. Essa foi a maneira rápida e barata que encontrei para
meu único dia na cidade.
Origamis de pássaros |
As cidades japonesas me impressionam. São sempre muito
maiores do que imaginava e, mais uma vez, fui surpreendido por um Hiroshima
grande, desenvolvida e com poucos traços do terrível evento que aconteceu em 6
de Agosto de 1945. Às 08:15 o bombardeiro americano Enola Gay despejou nos céus
de Hiroshima a A-bomb, como é chamada a bomba atômica.
O início dos estudos para desenvolvimento de uma arma atômica
foi sugerido formalmente por físicos alemães, entre eles, o nem tão brilhante,
Einstein, que fugiram da Alemanha de Hitler. A alegação ao presidente americano
para essa necessidade é que sabiam que a Alemanha estava desenvolvendo tal
artefato. Em apenas 3 anos o Manhattan Project, nome dado ao projeto, saiu do
papel, para a realidade, gastando mais de USD2.000.000.000 e envolvendo, no
ápice, mais de 100.000 pessoas – no final das contas, esses números foram
fundamentais para a “necessidade” de utilização da bomba. Creio que a maioria
dos envolvidos no projeto nem sabiam do que realmente se tratava.
A União Soviética vinha se fortalecendo, o Japão havia
atacado Pearl Harbour e se recusado a assinar o Tratado de Potsdam, o Projeto
Manhattan precisava ser justificado. Esse foi o embasamento para os ataques,
que apenas em Hiroshima, mataram mais de 270.000 pessoas, sendo
instantaneamente ou por efeitos colaterais da exposição à radiação.
Entre as quatro cidades japonesas que estavam no páreo,
Hiroshima foi escolhida pela geografia que ampliaria o dano da bomba e por não
ter nenhum campo de prisioneiros de guerra, então morreriam apenas japoneses.
Essas cidades foram proibidas de serem atacadas por bombardeiros comuns, para
que os efeitos da A-bomb fossem estudados. É muito cientificismo!
Monumento com o nome de todos que foram mortos pela bomba |
O Peace Memorial Park (Parque Memorial da Paz) fica ao lado
do Atomic Bomb Dome, uma das
construções que se manteve após a bomba, e nele há várias esculturas com
diversos significados, além do Hiroshima
Peace Memorial Museum (Museu Memorial da Paz de Hiroshima).
Um dos monumentos que chama atenção é o Children’s Peace
Monument (Monumento das Crianças à Paz), que foi erguido em homenagem à garota
Sadako Sasaki, que morreu 10 anos após o lançamento da bomba, de leucemia. Uma
lenda japonesas diz que se você fizer mil origamis de pássaro, seu desejo se
realizará. Enquanto estava no hospital, Sadaki começou a fazer os origamis para
tentar se recuperar e gerou uma campanha por todo o país, onde crianças
enviavam os origamis para ela. O monumento foi erguido em sua homenagem e ao
redor dele há milhares de origamis de pássaros, feitos por crianças, que sempre
ficam lá. Assisti a uma cerimônia onde dezenas de crianças cantam e oram pela
paz, ao redor do monumento – emocionante.
Relógio parado exatamente no horário da detonação |
O Hiroshima Peace Memorial Museum, não é pra qualquer um não.
Na parte de baixo há maquetes da cidade, comparando o antes e depois da bomba,
há um relógio de pulso quebrado, que parou exatamente às 08:15, horário da
detonação e diversas outras coisas relativas à bomba.
No segundo piso que o horror começa. Uniformes de crianças
queimados, sapatos, agendas, atestados de óbito, fotos de pessoas queimadas...
um horror. Parei de tirar fotos nesse momento e resolvi ir embora. Acho que não
precisava ver mais nada.
Fui até a estação de trem e peguei o famoso Shinkansen, trem
bala japonês, que leva pouco mais de 4 horas para percorrer 900km, com diversas
paradas. O bilhete é um absurdo, JPY18.040 +-BRL420, de Hiroshima para Tóquio,
mas era a única opção que tinha para não deixar de ir a Hiroshima e ainda
chegar a tempo para o meu voo para Beijing. O ICE (trem bala alemão) que me
desculpe, mas o Shinkansen é lindo!
Sugestão aos viajantes para o Japão: Comprem o JR pass, para
não rasgarem dinheiro como eu estou fazendo!
Ponto onde a boma explodiu a 600 m do chão |
Cheguei no meu hostel, querendo tomar um banho e dormir, pois
teria que acordar cedo e embarcar para Beijing. Esse era uma hotel cápsula,
onde você dorme literalmente em uma cápsula, que tem tv, rádio, despertador.
Esse tipo de hospedagem é comum no Japão e, em Osaka, fiquei em um excelente,
mas esse foi um PESADELO. Lá era um hotel cápsula, mas funcionava também uma
sauna japonesa, que foi a experiência mais desagradável para minha cabeça
ocidental. Você entra em um cômodo onde tira totalmente a roupa, depois vai
para os chuveiros, onde você deve tomar banho sentado em um banquinho e eram
uns 15 chuveiros, totalmente abertos e, no meio, tinha uma banheira gigante onde
eles ficam batendo papo. No total, tinham uns 20 japoneses de todas as idades,
mas principalmente mais velhos, esquisitos, pelados andando de um lado para o
outro. Dei meia volta e saí correndo de lá.
Deixei para tomar banho na manhã seguinte, quando acordaria
umas 05:00, e provavelmente estaria vazio. Depois de um dia intenso, dormir sem
tomar banho foi terrível, mas para piorar um pouquinho, a região onde minha
cápsula estava tinha cheiro de fritura. Por pouco não fiz check-out e fui para
o hotel em frente, mas me contive.
QUE DIA!
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