Pages

Ads 468x60px

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dia 132 - Lamatar, dia 24


A música foi um sucesso. Todos os alunos adoraram e cantaram “Somewhere Over the Rainbow / What a Wonderful World”. Era possível ver no olhos de muitos deles a alegria e emoção em cantar.

Duas meninas copiaram a letra inteira, que não é pequena, no caderno, então como tinha umas cópias reservas, dei para elas, que ficaram na maior satisfação. Em outra série, o menino que mais faz bagunça e conversa na minha aula, foi o que cantou com mais paixão e no final pediu para ficar com a letra.

Passo muitos perrengues por aqui, muitos mesmo, mas nessas horas, tudo vale a pena. Em dois momentos, em duas turmas diferentes, fiquei com os olhos mareados. Depois do show que meus alunos deram, toda semana levarei músicas diferentes. Na próxima semana será “Ain’t no Mountain High Enough”, do Marvin Gaye. Um professor quis assistir a minha aula e adorou a música. Ele é relativamente jovem e tem vontade de estudar no exterior.

Voltei para o orfanato realizado e fui conferir se estava tudo em ordem, para a manhã cedo, ir novamente ao Consulado da Índia.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Dia 131 - Lamatar, dia 23

Roupas no varal do orfanato
Com a faxina do dia seguinte, acabei esquecendo algumas roupas no varal, do lado de fora. Choveu durante a noite e tive que lavar novamente algumas peças de roupa...

Estou, diariamente, tentando abrir a mente dos meus alunos para que eles enxerguem, pelo menos um pouco, além do livro texto que eles tem. Levo sempre atividades que demandem raciocínio e interpretação, o problema é que eles levam muito tempo para conseguir entender e as vezes gasto uma aula explicando e a outra fazendo os exercícios.

Uma das turmas, dos alunos entre 11 e 12 anos de idade, me deixou muito cansado com o falatório durante a aula, então ameacei não levar música para eles. Planejei, para quinta-feira, ensiná-los a cantar “Somewhere Over the Rainbow / What a Wonderful World”, na versão do cantor havaiano Israel Kamakawiwo’ole. Essa versão é bem lenta, além de ser uma bela interpretação. Espero que eles gostem.


Peguei umas caixas de som que tinha no orfanato e coloquei na minha mochila, pois só o som do computador não será suficiente para que eles escutem com uma certa nitidez.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Dia 130 - Lamatar, dia 22

Crianças do orfanato aproveitando o feriado - Filme nepalês
no Youtube
Feriado para quebrar a semana no meio é bom demais. Há mais de quatro meses que não me importo com feriados, dias úteis, sábados e domingos. Especialmente, nesse feriado, completo 1 mês de Nepal.

O que falar desse 1 mês? Poxa, por mais preparado que eu achava que estava, está sendo uma experiência e tanto. Nunca pensei que meu limite de tolerância fosse tão alto, já que nos últimos anos, me mimei bastante. Estou sobrevivendo, entretanto, assumo que essa caminhada está tão difícil, que todos os dias penso em desistir, mas estou encarando esse desconforto com seriedade e disciplina militares. Inclusive, adotei o lema “missão dada é missão cumprida” ainda mais nesse caso, que eu me dei a missão.

Fiz o que toda dona de casa faz nos feriados; lavei muita roupa, arrumei meu quarto e comprei alguns suprimentos. Sem falar que adiantei bem as 800 páginas de “Anna Karenina”, de Tolstoy.

Frequentemente venho pensando o que farei quando voltar ao Brasil. Creio que gostaria de trabalhar na área de vendas, já que me comunico razoavelmente bem e tenho facilidade em lidar com diferentes pessoas. Nesses meses de viagem, foi a única conclusão, a respeito de trabalho, que consegui chegar. Nem sei por onde começar, nem vendendo o que, mas vou amadurecer essa ideia.

Depois de acidentalmente furar a bola de futebol, fui até a cidade comprar uma outra e pedi carona para o coordenador do projeto, em sua moto. O sujeito dirigia igual a um imbecil e eu, obviamente sem capacete, fechei os olhos e rezei para não acontecer nada. Quase-acidentes ocorreram umas 3 vezes. Quando cheguei de volta, me prometi que nunca mais pegaria carona com aquele inconsequente.

Com a bola nova, jogamos futebol por umas duas horas, até que fui organizar o material das aulas de amanhã. Apesar de toda a precariedade da escola, da falta de preparo dos professores e alienação total dos alunos, faço o meu melhor para passar o que eu sei para eles.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Dia 129 – Lamatar, dia 21

Corredor da escola
parcialmente inundado
Não acordei muito bem disposto. Quanto mais o tempo vai passando, mais cansado vou ficando daqui. Mesmo minhas pausas, quando vou para Kathmandu, não estão fazendo mais efeito, até porque, é extremamente moroso chegar e sair de Kathmandu. Sei que é passageiro, mas estou bem desgastado e ainda tem a preocupação se vou ou não a Israel.

Vários professores faltaram, porque, de acordo com os alunos, eles tinham que ir ao médico. Imagino o tanto que isso não acontece com frequência por aqui. A parte boa foi que eu estava por lá, então cobri vários buracos que os professores ausentes deixaram. Descobri que amanhã é feriado, por algum motivo que ninguém sabe explicar, então vai ser um dia para lavar roupas, minha mochila que está imunda, dar uma geral nas coisas.

Sala de aula
Na próxima quarta, Kat, a americana que está aqui no projeto comigo, vai embora e ficarei “sozinho”. Como já estou bem ambientado, não será problema algum, até porque, passo a maior parte do dia na escola, enquanto ela fica em casa.

Conversei com uma amiga que mora em Dubai, então nos próximos dias decido se mantenho o plano de Jordânia e Israel, ou se mudo a passagem para Dubai. Com o cessar fogo estabelecido nos últimos dias, tenho fé que até setembro tudo estará mais tranquilo entre Israel e o Hamas. Me resta aguardar.

domingo, 27 de julho de 2014

Dia 128 –Lamatar, dia 20

Sala de aula da escola
Por conta da cama não ser nada confortável, tenho acordado cedo todos os dias, por volta das 06:00. A parte boa é que até a hora de ir para a escola, 09:30, tenho tempo de lavar minhas roupas, preparar as aulas, ajudar as crianças nos deveres de casa, e ainda assisto a algum seriado que tenho no computador. Isso que é aproveitar o tempo.

Levei o material que preparei sobre a América do Sul para o professor avaliar. Depois de correr o olho pelas 4 páginas, ele me pediu para lecionar hoje e amanhã. O que me incomodou um pouco, é que ele estava ocupado e não acompanhou a aula. Um folgado, mas fiz o que pude para repassar o conteúdo. Amanhã finalizo.


Voltei para casa e fiquei um pouco com as crianças, enquanto elas faziam os deveres de casa. Vendo a maneira como elas estudam, me deixa profundamente chateado. Não existe interpretação de texto e elas aprendem coisas muito além do que tem realmente capacidade, obrigando-as a apenas decorar o que está escrito no livro, muitas vezes frases sem pé nem cabeça. Não sei onde o Nepal vai parar, com pessoas que só repetem, igual a um gravador, sem o mínimo de senso crítico e poder de argumentação – vai ver, é essa a intenção.

sábado, 26 de julho de 2014

Dia 127 - Lamatar, dia 19

Foto do início da viagem - uma longa
estrada pela frente
Já dizia Gonzaguinha, “Viver, e não ter a vergonha de ser feliz...”. Em 30 anos, eu não quero olhar para trás e lembrar do que eu deixei de viver, nem me arrepender do que não fiz. Nos momentos de nostalgia, quero lembrar de tudo que fiz, vivi, das decisões certas, das erradas, dos perrengues que passei. Quero ter a certeza que eu tentei de tudo e lutei, da forma que podia, deixando de lado a inércia e o conformismo.

O mal do século XXI, a famigerada depressão, além de ser causada por questões patológicas, também se alimenta de sentimentos como remorso e arrependimento, e aí, não há Prozac que segure.

Com quase 28 anos, vou recomeçar minha vida, depois de dar uma espiadinha no mundo e, se julgar necessário, aos 40, 50, 60, recomeço outra vez. Caso as condições sejam muito adversas, basta manter o foco no objetivo, que as soluções vão surgir.

É, no papel tudo é lindo e simples, afinal, ele aceita tudo. Mas decidir pular de bungy jumping e, efetivamente, pular, são coisas bem diferentes.
Lembrando que, nem sempre o que é pregado pela sociedade serve para você, inicialmente, amigos vão tentar te desencorajar, a família vai te julgar te chamar de doido e mostrar o que você tem a perder, os colegas de trabalho não vão entender e falar que o mercado de trabalho não está bom. Mudanças sempre geram resistência, mas nessa hora precisamos ser egoístas e lembrar que somos autores e atores das nossas vidas. Ninguém vai ser feliz por você.
Hoje, todas as pessoas que foram contra a minha volta ao mundo são a favor e se tornaram espectadores, muitas vezes atuantes, dessa minha empreitada.


Nunca é cedo demais, nem tarde demais para recomeçar e, caso as coisas não saiam como o esperado, pelo menos você tentou. Como disse Santo Agostinho, “o homem que nunca errou, foi aquele que nunca fez coisa alguma”.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Dia 126 - Lamatar, dia 18

Exercícios para meus alunos
Acordei cedo e 09:30 já estava tomando um belo café da manhã, no centro de Kathmandu.


Caminhei 2km até o consulado e pronto, entreguei o formulário e as cópias! Pronto nada, tenho que voltar lá duas vezes ainda, até receber o visto. Uma, na próxima semana, para entregar o passaporte e, depois, buscar o passaporte... não entendi nada, só posso aceitar.

Fiquei em um hotel bem razoável, silencioso e relativamente confortável, localizado no prédio em cima do melhor restaurante da cidade. Nem achei ruim.

Recebi uma pá de excelentes exercícios, em inglês, para meus alunos. Por um acaso, tenho uma tia que tem uma escola de idiomas e me enviou muita coisa boa. Imprimi tudo e vai ser de grande ajuda. Obrigado Tia!

Passei o dia por conta de organizar as quase 200 folhas, que ficaram excelentes, pois fui em uma papelaria que eu conhecia e sabia do serviço deles.


Encontrei com meus amigos e fomos ao photo show do pessoal. Muitas fotos bacanas, mas algumas, de mendigos, achei de péssimo gosto. Não me sinto no direito de fotografar pessoas em momentos tristes e degradantes, mesmo sendo a realidade, como uma das fotógrafas expôs.  Considero extrema falta de respeito.

A parte boa, foi que, todos os voluntários estavam presentes, então nos reencontramos e trocamos as nossas experiências. A grande maioria está indo embora nos próximos dias e só vai ficar uma alemã, que vai comigo para o Oktoberfest desse ano.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Dia 125 - Lamatar, dia 17

Maosam brincando com meu guarda-chuva
De Junho a Agosto, é a época das monções no Nepal, então chove praticamente todos os dias, muitas vezes, o dia inteiro. Por conta dessas chuvas, um corredor da escola ficou inundado boa parte do dia.  Também percebi que as salas de aula não tem iluminação, então, quem senta longe da janela, tem extrema dificuldade de enxergar o que está na mesa.

As aulas foram para treinar leitura e pronúncia, com um texto sobre a colonização do Brasil. Me assustei com a dificuldade em ler, inclusive dos maiores. A partir de agora, toda aula terá esse momento de leitura, pois além de ajuda-los com pronúncia e fluência, é uma forma de ficarem calados.
Falando nisso, o dia foi uma beleza. O coordenador conversou com a turminha da bagunça e todo mundo ficou relativamente quieto.


Voltei para casa e fui verificar minha documentação para o visto indiano, já que amanhã cedo irei, finalmente, entrar com o pedido.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Dia 124 - Lamatar, dia 16

Mapa com os países que já visitei
visited 28 states (12.4%)
Create your own visited map of The World or Amsterdam travel guide for Android

Até que o tempo está passando rápido. Já se foram 16 dias de orfanato e exatos 4 meses de viagem.

A quantidade de acontecimentos preencheu 88 folhas do Microsoft Word, onde escrevo antes de passar para o Blog, sendo que nem todos os fatos são reportados. Não por considerá-los irrelevantes, mas para manter a minha privacidade e dar um certo tom de impessoalidade, apesar do conceito de blog ser “diário virtual”, e das minhas opiniões, normalmente cretinas e sarcásticas, estarem 100% presentes. Mantendo esse tom, não posto fotos minhas, mas apenas de terceiros, objetos ou lugares.


Comecei o dia conversando com familiares e amigos pelo Facebook, sempre uma forma de estar mais perto de casa, já que, apesar de estar estabelecido em Lamatar, não consigo considerar aqui a minha casa, menos ainda, meu lar.

Os últimos fatos que aconteceram estão me deixando preocupados quanto aos próximos destinos da viagem. Depois da Índia, dia 05/09, está prevista minha ida para Jordânia e Israel. Apesar dessa maldita guerra acontecer há muitos anos, os bombardeios estão mais intensos e alguns mísseis, lançados pelo Hamas, caíram há menos de 2Km do aeroporto internacional de Tel Aviv. Se as coisas não melhorarem, vou alterar esse trecho. Ao invés de Israel e Jordânia, pensei em Qatar e Emirados Árabes. Vou esperar mais um pouco, para ver se a coisa dá uma acalmada
Outro problema é com a Rússia. Meu voo para Berlin parte de São Petesburgo, e depois dessa confusão do míssil em mais um avião da Malaysia Airlines, estou receoso a respeito das retaliações que podem ocorrer.
Tenho um tempinho ainda, mas já tive que alterar a viagem drasticamente por conta do terremoto no Chile e quase não pude ir à Tailândia por conta do golpe militar e do toque de recolher. Não queria mudar meus planos de novo não.

As aulas foram tranquilas, mas uma turma me tirou tanto do sério, que ameacei não dar mais aulas para eles. Conversei com o coordenador, para ele tentar me ajudar, mas se não melhorarem o quesito disciplina, vou trocar de turma sem dó nem piedade. Pode parecer egoísmo, mas não deixa de ser uma forma de ensinar, afinal, vão perder o professor brasileiro, gente boa, que conta piada e não dá dever de casa, para um nepalês entediante e rígido.


Um dos professores me pediu auxílio para ensinar a alunos da 10ª série (15 e 16 anos) sobre a América do Sul. Já peguei o livro texto, que é horrendo e desatualizado, e esse final de semana vou imprimir umas coisas coloridas e interessantes, para ensinar e entreter ao mesmo tempo, já que é uma turma de apenas 15 alunos.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Dia 123 - Lamatar, dia 15

Meus alunos rezando antes
de começarem as aulas
Acordei e telefonei para um amigo, que mora na América, e conversamos por 12 minutos. A ligação custou menos de BRL1, ligando do meu celular nepalês para o celular americano. Só no Brasil que a telefonia é cara. Jogamos conversa fora e comecei o meu dia.

Algo que me incomoda muito, são as refeições por aqui, mas não só pela comida. Todos utilizam as mãos para comer e comem fazendo uma barulhada inacreditável, tentando sugar os grãos de arroz, molhados pela sopa de lentilha. Não se para de falar um minuto e se fala muito alto, então paz, não há. Depois de comer, enquanto lavo o meu prato, crianças lavam a boca e cospem na mesma pia que lavo o prato, muitas vezes, em cima de outros utensílios; uma nojeira só.  O engraçado é que ainda não me acostumei com isso e, na verdade, acho que estou é ficando mais incomodado a cada dia que passa.

Caminho para a escola
Serei responsável por 4 aulas de 40 minutos por dia, separadas por um intervalo de 40 minutos. Lecionarei da 5ª a 8ª série, e, em todas as classes, há crianças do orfanato onde moro/trabalho. Todos os dias, de domingo a quinta, darei aulas para essas turmas. Sexta, é até 12:00, mas essa sexta feira, irei cedo para Kathmandu, entregar a papelada do visto indiano. Na parte da noite, tenho uma apresentação de fotografias de uma amiga, que trabalhou com fotojornalismo em Kathmandu, nas últimas semanas.

Estava um pouco nervoso no início, mas as crianças ajudam muito e me deixam bem confortável. A minha série predileta foi a 8ª, onde todos ficavam mais quietos e ficaram super empolgados com a minha presença. No quesito empolgação com o vara-pau brasileiro, ocorreu um empate técnico entre todas as turmas, mesmo as que eu não conheço. Me chamam de Pedro, Prakash, Brother, me perguntam mil coisas, falam da copa do mundo (uma das crianças contou que chorou quando o Brasil perdeu para a Alemanha) e perguntam quanto tempo ficarei por aqui. Quando digo 3 a 4 semanas, tempo que me resta, a felicidade é generalizada.
Presenteado com mais um
belo pôr do sol

Fiz uma pequena introdução sobre mim e depois pedi que as crianças escrevessem características sobre elas. Li uma por uma e corrigi os problemas que vi. Depois disso, tentei explicar a importância de se saber inglês, mostrando a quantidade de países que falam inglês, além de ser uma língua simples e que é um plus, na hora de conseguir um bom emprego. Espero ter conseguido passar a mensagem.



Voltei pra casa bem cansado e posso dizer que dar aula é desgastante, principalmente para adolescentes e pré-adolescentes, agitadíssimos, como os meus 79 alunos.
Finalizei meu dia realizado e satisfeito.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Dia 122 - Lamatar, dia 14

Maniz e Bijay a caminho da escola
O dia “D” chegou e fomos todos para a escola. No início, o caminho é asfaltado, depois passa para cascalho e depois lama; muito agradável (ainda bem que comprei um calçado apropriado para as condições daqui).

Na entrada da escola, crianças jogavam ping-pong, onde a rede era feita de tijolos e as raquetes eram as mãos. Criatividade não falta por lá.
Os meninos se vestem com camisa, gravata e calça social, mas o calçado varia entre sapato, chinelo e crocs.  As meninas usam saia, meias brancas até o joelho, camisa e gravata. Vários países que visitei tem esse “dresscode” para uniforme de crianças, mas prefiro no Brasil, onde as coisas são mais relaxadas.
Conversei com o coordenador da escola e o professor de inglês, que me auxiliaram a montar meu horário, e depois fui assistir algumas aulas, para ver como funcionam as coisas por lá. Todas as aulas são lecionadas em inglês e os livros também, algo curioso.

As salas de aula são muito precárias, com quadros brancos estragados por conta das chuvas, pisos parcialmente inundados, iluminação fraquíssima e carteiras desconfortáveis (talvez para mim, que sou duas vezes maior que eles).
Fui assistir à aula de inglês, onde a professora jogava forca. As crianças tinham 10, 11 anos, e a professora utilizava palavras inúteis, para o vocabulário atual delas, como “project”, “property”. Foi divertido, mas pouquíssimo instrutivo, e ao lembrar a metodologia de ensino nas nossas escolas, estamos muito além. De lá fui para aula de administração da 6ª série, onde a professora, com um inglês ininteligível, repetia o que estava escrito no livro e depois fazia perguntas às crianças, que liam o que estava escrito no livro. Tudo baseado na decoreba, sem o auxílio de recursos modernos, de forma que não se vai além do livro, nem um pouco. O para-casa é resumir o que está no livro, ou responder algumas perguntas e pronto.
Enquanto assistia às aulas, fui tendo várias idéias. 

Voltei para casa, onde montei duas páginas sobre a América do Sul e o Brasil, com mapas, figuras e tabelas, para tornar a leitura mais atrativa. Fui para o centro da cidade imprimir, mas o Nepal não para de me surpreender. O computador do cyber café não funcionava, depois as impressoras deram problema e as cópias ficaram péssimas. Gastei duas horas para fazer isso e ficou uma porcaria.
Fiquei extremamente frustrado com as cópias, pois o meu esforço foi praticamente em vão. Tudo aqui é muito difícil, meu Deus do Céu! Atividades corriqueiras como imprimir ou tirar cópias de uma folha, se tornam uma luta.

Obviamente que esse contratempo tirou parte da minha motivação, já que minha intenção era levar coisas diferentes, todos os dias, entre letras de músicas, vídeos, fotos... Impraticável.

Outro detalhe do dia foi que, com a volta das aulas, os horários de alimentação mudaram. O café da manhã é 08:30, depois tem um lanche da tarde às 16:30 e jantar 20:30. Ficaram muito esparsas e passei fome, mesmo com barras de cereais e frutas que tinha.

Pedi auxílio para minha amiga Priscilla, que já deu aulas de inglês para adolescentes e ela me enviou várias opções e dicas de atividades. E vamo que vamo!

domingo, 20 de julho de 2014

Dia 121 - Lamatar, dia 13

Desliguei o despertador do Saroj, de forma que eu não seria acordado 04:00 da madrugada, evitando algum crime que poderia acontecer.

Confirmei minha carona, então fomos para o hostel, onde fica o escritório da RCDP, instituição responsável pelo meu intercâmbio e pelo orfanato. Lá reencontrei alguns “velhos” conhecidos e combinamos de jogar laser tag no próximo final de semana, sim, tem isso em Kathmandu.

O mesmo carro que nos levou de volta para Lamatar, levou as americanas de volta para Kathmandu, 1 semana depois de chegarem. Achei foi bom, porque as meninas eram bem bobas e chatinhas, típicas adolescentes americanas, tão estereotipadas, que pareciam personagens de seriado.

Sempre que fico ausente, levo coisas para as crianças, sejam guloseimas ou frutas. Mais uma vez, comprei frutas, para não chegar de mãos abanando, além de serem uma opção nutritiva e saudável.

Voltar para casa é sempre muito bom, ainda mais depois de ficar em um hotel tão ruim quanto o Garuda Hotel. Nos anos 90, praticamente todos os alpinistas ficavam hospedados nesse hotel, portanto há várias fotos de celebridade como Rob Hall, Scott Fischer, ambos morreram no Everest em 1996, mas o hotel parece que permaneceu o mesmo desde então, sem receber nenhuma atualização. Hoje ele tem um nome diferente, apesar de manterem a placa “Garuda”, e é de propriedade de alguns chineses – malditos chineses.


Amanhã será o primeiro dia de aula das crianças na escola e devo começar como professor também. Se bem conheço o estilo nepalês, vão me jogar na jaula dos leões e eu que me vire para sobreviver.

sábado, 19 de julho de 2014

Dia 120 - Lamatar, dia 12

Assistindo ao movimento em Durbar Square

 Acordei às 04:00 com o relógio do menino tocando, uma ótima maneira de começar o dia. No início da manhã, resolvi ajudá-lo com os estudos, fazendo perguntas, com o caderno dele na mão.

Estudamos  administração, especificamente, tipos de empresas (privadas, estatais). Durante a arguição, percebi que ele era apenas um gravador, que decorava e repetia o que estava escrito no caderno, nada além. Mesmo assim, muitas das frases escritas, em um inglês lamentável, não faziam o menor sentido; ajudei no que pude.

Tomamos café da manhã no mesmo restaurante que comi na última semana, excelente. Salada de frutas com iogurte, waffles, omelete com espinafre e cogumelos, um banquete.

Partimos rumo ao dia de turista. Começamos pela Durbar Square, mais famoso ponto turístico de Kathmandu, mas Saroj não conhecia. Passeamos por lá, tiramos fotos e ficamos observando o movimento de pessoas.
Mais Durbar Square


Caminhamos por 30 minutos, até chegar ao cinema, que fica em um shopping, chamado Civil Mall, em Sundhara. O shopping é bem diferente, pois, apesar dos sete andares, é bem pequeno, mais parecendo uma galeria. A praça de alimentação é uma atração à parte, pouquíssimos restaurantes, com uma higiene duvidosa. Não se compra direto no restaurante, mas em um quiosque, no meio da praça, onde adquiri um cartão pré-pago, com a quantidade de dinheiro que gostaria de gastar. A coisa mais esquisita que já vi, além de pouco eficiente. Para completar, a praça parecia um calabouço, quente e escura, com cheiro de fritura.


Observei, sem tecer comentários, e fomos para o sétimo andar, onde fica o cinema e fliperamas, do início da década de 90.

Jogos de corrida de carros, moto, tiro, basquete... Jogamos todos, até que fomos ao cinema, chamado QFX, assistir ao novo filme do Planeta dos Macacos, chamado Dawn of the Planet of the Apes, em 3D. O ingresso custa NPR420, BRL11.
Piloto de fuga
Começando as críticas, a sala de cinema era até razoável, com cadeiras confortáveis e ar condicionado adequado, mas o som era bem ruinzinho. O filme era em inglês, sem legendas, e a cada cena em que os atores fumavam, aparecia um aviso “fumar é prejudicial à saúde”; queria ter tirado uma foto. O melhor foi que no meio do filme, houve um intervalo, de 15 minutos, para que as pessoas comprassem mais comida e bebidas. Pipoca, cachorro quente, nachos, donuts... Nunca vi tantas iguarias de alto teor calórico, reunidas em um só lugar.


O filme foi fraco, mas a experiência, extraordinária. Saroj não tirava o sorriso do rosto, pois só tinha ido uma vez ao cinema, há muitos anos, e nunca tinha assistido a um filme em 3D.
Saroj com os óculos 3D

Durante todo o tempo que andamos pela cidade, tentei, de forma sutil, comprar coisas que seriam úteis para ele, mas ele sempre retrucava que não precisava. No final das contas, descobri que ele precisava de uma calculadora para as aulas de administração. Um presente útil, que servirá para ele e os outros do orfanato. Eu tive uma calculadora semelhante nos tempos de curso técnico.


A noite encontrei uma amiga alemã, que teve o quarto invadido e levaram todo o dinheiro que ela tinha, cerca de USD400. Fica mais um alerta!

Ela me contou que dar aulas para os monges budistas está sendo uma experiência única. As idades são entre 5 a 20 e poucos anos, alguns bebem, fumam e já houve casos de monges fugirem do monastério com voluntárias. Muitas famílias, principalmente da região dos himalaias, enviam seus filhos para serem monges, pois assim, receberão uma educação adequada, além de alimento e abrigo. O único problema nessa história toda, é que muitos não tem aptidão para a vida de reclusão parcial, então, acontecem essas desventuras.


Jantamos em um restaurante vegetariano/vegano chamado Places. Uma comida excelente, para fechar com chave de ouro a última noite em Kathmandu, antes de regressarmos ao orfanato.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Dia 119 – Lamatar, dia 11

Saroj com uma pizza do tamanho dele
Saroj tem aula de 05:00 até 08:00 (loucura esses horários nepaleses), então combinei com ele que ele deveria chegar o mais rapido possível no orfanato, para dar tempo de ir até o consulado da Índia, em Kathmandu.
Como todo consulado, os horários são limitadíssimos, sendo que só posso entrar com o pedido de visto entre 09:30 e 12:00.
Primeiramente deve-se fazer o requerimento de visto on-line, onde é necessário preencher um formulário, scanear uma foto no tamanho 2x2 polegadas,  imprimir o formulário, assinar e colar a foto. Se eu tenho que colar a maldita foto, qual a razão de scanear?

Com o atraso do Saroj, não seria mais possível ir ao consulado, mas sei que ele já estava na expectativa de ir hoje, então preferi manter o combinado. Sei o tanto que é ruim desmarcarem algo que a gente quer muito fazer. Essa empatia e cuidado com o outro, que estão faltando nos dias de hoje.
Depois da maratona de 2 transportes, caminhos empoeirados, paradas a cada 15 metros,  chegamos! Fizemos o check-in no hotel e fui andar com ele por Thamel, onde ele ficou impressionado com a quantidade de lojas, turistas, barulho e tráfego.

Ele é vegetariano, o que dificultou um pouco a escolha de lugares, além do mais, se come muito pouco no orfanato, então tive dificuldades em fazê-lo comer. Fomos jantar em uma pizzaria muito boa chamada Fire and Ice. Estive lá semana passada, então ja sabia o que esperar. Pedi uma pizza para cada um de nós, uma senhora pizza, quase do tamanho do diminuto Saroj. Não sei quanto ele tem de altura, mas ele de pé, não chega no meu ombro.
Conversando um pouco mais com ele, descobri que a mãe abandonou ele e o irmão mais novo com o pai, quando ele tinha apenas 5 anos. Aos 10 anos, o pai morreu,  por conta do alcoolismo, então ele foi para o orfanato em Lamatar e o irmão para um em Kathmandu; nunca mais se encontraram desde então.

Hoje,  com 16 anos (descobri que na verdade ele tem 18, mas foi registrado tardiamente), ele está fazendo uma espécie de especialização em administração, em Lubhu,  cidade próxima à Lamatar.

Fico pensando quantas crianças e adolescentes não tem histórias semelhantes, ou muito piores.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Dia 118 - Lamatar, dia 10

Tudo certo para a minha pequena excursão para Kathmandu. Assumo estar com um pouco de medo, pois serei o responsável por um adolescente, pelos próximos dias. Apesar de ter 16 anos de idade, pelo tamanho e maturidade, Saroj parece ter uns 12.

Busquei algumas informações com uma amiga que é daqui, para saber se deveria tomar algum cuidado especial, mas ela me disse que não há necessidade não. Único detalhe é que Saroj é vegetariano, como boa parte dos hindus, então nada de banquetes regados a carne (a única carne que como por aqui é frango, pois a vaca é sagrada e os rios da região são poluídos).

Passei boa parte do dia tentando descobrir o curto-circuito do meu quarto, mas quem achou o problema, foi Saroj, com sua boa vontade de sempre. Trocamos parte da fiação que estava corroída e pronto. Tenho energia no quarto novamente.

O clímax do dia foi a despedida do pai e da mãe, que vão passar 20 dias na Índia, rezando; coisa de hindu.


Organizei minha mochila e fiz uma lista de coisas que preciso comprar, para não ficar sem suprimentos durante a semana.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Dia 117 - Lamatar, dia 9

Sugam mostrando sua tatuagem 
Meu leite de soja estragou! Comprei várias caixinhas com leite de soja, e uma caixa grande, de um litro, que abri segunda-feira. Por estar fora da geladeira, ele durou menos de 48 horas. Lição aprendida, agora, vou comprar apenas pequenas caixas, para evitar desperdícios.



Terminei de ler “Into Thin Air” e comecei outro livro do Jon Krakauer, chamado “Into The Wild” – só tragédia! Quanto mais leio sobre o Everest e os efeitos de grandes altitudes no corpo humano, menos entendo porque as pessoas continuam se arriscando e morrendo congeladas, caindo em abismos, sendo atropeladas por avalanches. Parece uma espécie de perversão.

Descobri que a casa onde fui fazer as filmagens do filme Destination Kathmandu é dos responsáveis pelo orfanato!! É tanta coincidência, que quando mostrei o vídeo para a mãe, nem ela acreditou. Todos quiseram ver os vídeos e fotos, então mostrei um a um, na maior paciência do mundo.

Enquanto atualizava meu blog, Saroj, de 16 anos, ficou vendo as fotos que tenho no meu telefone e perguntando sobre os lugares que já fui. Será que ele algum dia terá a oportunidade de sair do Nepal? Comecei a perguntar para ele o que ele conhece de Kathmandu, e descobri que eu conheço mais que ele. Durante a nossa conversa, tive o insight de levá-lo, no próximo final de semana, para Kathmandu, onde ele terá a oportunidade de ampliar um pouco seus horizontes e descansar da rotina do orfanato. Pedi autorização para os coordenadores e já está tudo combinado.

Saroj posando com uma vista incrível
Sexta-feira iremos para Kathmandu e voltaremos domingo. Conversarei com o pessoal, para saber se devo tomar alguma precaução, já que somos de mundos bem diferentes. Espero estar tomando uma boa decisão.



Depois do jantar, fomos todos fazer tatuagens de hena, já que é algo tradicional por aqui. Os desenhos, sempre com significados religiosos ou florais, devem ser feitos na mão esquerda e ficam marcados por até duas semanas. Deixei um dos meninos fazer o meu - ficou tenebroso...

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Dia 116 - Lamatar, dia 8

Sushila fazendo graça
Evito julgar, mas já que as duas americanas ficarão apenas 1 semana no projeto, deveriam tentar estar mais presentes no dia-a-dia das crianças. Hoje, saíram do quarto as 09:30, quando o “almoço”, já estava sendo servido, mesmo assim, porque chamei as duas.

Depois do almoço, peguei minha câmera para fotografar as crianças, que ao perceberem, ficaram posando e fazendo todo tipo de traquinagem possível. Estive pensando em dar algum presente para elas, antes de ir embora, porta-retratos com a foto de cada um, ou um pôster com a foto da família inteira reunida... Tenho que pensar em algo que elas não vão destruir em 5 minutos e que seja útil.

Parte da família
Percebi em um dos órfãos, Moham, de 16 anos, anda com bastante dificuldade devido a problemas na coluna. Ele já passou por duas cirurgias e tem uma cicatriz enorme, da base do pescoço, até o fim da lombar. Para ajudar no tratamento, ele toma pílulas de cálcio e, a cada 6 meses, vai ao médico checar como está a evolução do seu quadro. Um sofrimento danado, para alguém de apenas 16 anos, mas ele nunca tira o sorriso do rosto.

Pão quentinho, feito na hora

Diariamente paro para pensar qual é a real contribuição que posso dar às crianças, enquanto estiver por aqui. Aos poucos, estou chegando à conclusão de que estando presente, dando carinho e atenção, são as formas que tenho para ajudar. No fim das contas, a impressão que eu tenho é que essa experiência vai ajudar mais a mim do que a eles. Assistir a tudo isso, faz a gente ser extremamente grato por tudo que tem, desde à família, até o conforto da nossa cama.
Já se passaram 8 dias, mas ainda não estou 100% adaptado. As vezes ainda bate um desespero e uma vontade de sair correndo, mas respiro e lembro que além de ser passageiro, tudo tem um motivo maior.

Especialmente hoje, tivemos um lanche da tarde, com pão e chá. O pão foi feito artesanalmente pelas cozinheiras, mas por ser um pouco pobre, passei manteiga de amendoim, para dar um upgrade na refeição – estou usando tudo que comprei e acho que fiz boas escolhas.


Fui dormir mais cedo que todo mundo, com um estranho cansaço.

Dia 115 - Lamatar, dia 7

Café da manhã, leite de soja com cereais
Engraçado como mudamos nossa perspectiva, de acordo com o passar do tempo.  No início, eu só via ratos, desconforto e sujeira. Hoje consigo ver muito mais do que isso, apesar desses elementos continuarem presentes. É a velha história de fazer uma limonada com os limões que são dados. Graças a essa mudança de perspectiva, o trajeto se torna menos doloroso e mais prazeroso.

Meu café da manhã, foi banana com cereais e leite de soja, mantimentos que comprei para me ajudarem a passar os próximos dias e que já estão fazendo a diferença, pois durante todo o dia, não fiquei com aquela desagradável sensação de fome, que me assolou na primeira semana.

Minha bota com vista para
Kathmandu
Mas claro, que por mais que eu me esteja adaptando bem, sempre tem umas novidades... Por algum motivo, apenas o meu quarto está sem energia elétrica, e pelas investigações que fizemos, acho que é algum curto-ciruito que não deixa o disjuntor armado. Procuramos por horas onde seria o problema, mas não descobrimos nada, então, amanhã, chamarão um eletricista para tentar identificar o problema.

As meninas precisavam comprar água e papel higiênico (vale reforçar que os locais não usam papel higiênico, mas a mão esquerda), então, depois do almoço, 09:30 da matina, fui com elas até algumas lojinhas onde compraríamos esses itens e algo mais que precisássemos. Obviamente caiu uma tempestade e ficamos presos, por quase duas horas, na lojinha. Seguindo a máxima de tirar proveito de tudo, comprei um baralho e ensinei um jogo de cartas, super simples, que aprendi por aqui. Enquanto jogávamos, várias pessoas ficaram assistindo e participando do jogo, ajudando as meninas, já que ele é extremamente popular e difundido no Nepal.

A chuva diminuiu e coloquei meu novo calçado à prova. Terreno extremamente irregular, com buracos, lama, poças d’água, mas minha bota se saiu super bem, sendo confortável, estável e resistente à água. Chegamos em casa e estavam distribuindo as frutas que comprei para as crianças, em pequenos pratos com manga, maçã e banana. Fiquei super satisfeito em ver a molecada se alimentando.


Para não perder o costume, joguei bola, mesmo com o corpo todo doendo do último dia, mas pelo menos é um exercício físico, já que não tenho feito nada nos últimos meses.

Para atualizar o blog, fui para o escritório, que fica na casa das crianças. Comentei sobre uma música indiana, “Kajra Re”, e resolvi colocar para tocar. Eu, as meninas, algumas crianças e a mãe, dançamos enquanto outras crianças observavam desconfiadas. Depois coloquei outra música, dessa vez, “Jai Ho”, do filme “Quem Quer Ser Um Milionário”, e dançamos mais ainda – aquela farra boa!

Fato engraçado – a americana de 16 anos chama Jackeline Chen, mas virou Jackie Chen rapidinho.

domingo, 13 de julho de 2014

Dia 114 - Lamatar, dia 6

Depois de comprar toda a comida necessária, me preocupei em adquirir uma bota ou um tênis que fosse útil nesse período chuvoso e lamacento que estou enfrentando no Nepal, além de quente para a neve, no inverno alemão que está por vir.

Comprei uma bota/tênis da Solomon, uma marca americana bem famosa por esse tipo de calçado. Não foi nada barato, NPR12.000, BRL333, mas por ser algo de extrema qualidade, robusto e confortável, tenho certeza que irá durar por um bom tempo.

Mais uma vez, recorri ao TripAdvisor para procurar um bom restaurante para almoçar e fui para Rosemary Kitchen, considerado o melhor restaurante de Kathmandu. A comida estava realmente muito boa e valeu como última refeição, antes de voltar para o orfanato.

Duas novas voluntárias se juntarão ao meu projeto, sabendo disso, fui encontrar com elas, para pegar uma caroninha para voltar para Lamatar, ao invés de enfrentar os transportes públicos nepalenses. Ambas são americanas com 16 e 17 anos, bem jovens. A de 17 anos, esteve ano passado dando aulas de inglês em um monastério em Kathmandu, mas dessa vez parece que ela não está achando tudo tão legal como da última. Ela surtou tanto, que está tentando adiantar o voo dela de volta para a América, antes mesmo de conhecer o projeto... Isso que dá, aceitar pessoas jovens demais, pois, nem sempre, terão a maturidade para suportar e superar os obstáculos. Além do mais, a menina nunca sorri!!! Está sempre de cara fechada – que preguiça...
Chegando ao orfanato,

pedi para pararem para podermos comprar frutas para as crianças. Comprei 2kg de maçã, 3kg de manga e 2 pencas de banana. Sempre que saio, tento voltar com alguma surpresa para meus meninos e meninas.

Fiquei genuinamente feliz em voltar para o orfanato. Interessante, pois uma semana atrás eu estava entrando em parafuso. As crianças me receberam super bem e adoraram as frutas. Jogamos bola, me ralei todo, fiquei imundo por conta da lama do jardim, mas me diverti bastante.

Estou começando a gostar daqui, de verdade.

sábado, 12 de julho de 2014

Dia 113 - Lamatar, dia 5

07:00 em ponto acordei, e me arrumei para ir ao ponto de onde os transportes partem. Por sorte, não estava chovendo, apesar do tempo nublado, então a caminhada de 10 minutos foi super tranquila e prazerosa, já que a região é bem bonita. A medida que ia passando por bares e pequenas lojas, todo mundo me olhava meio desconfiado.

Peguei o transporte, fui até outra cidade, onde peguei uma van, até então a melhor van que já entrei, e parei no Ratna Park, espécie de rodoviária de Kathmandu. 1:40 depois da minha partida, cheguei ao meu destino, ufa!

Previamente, fiz uma lista de tudo que gostaria de comprar, em relação a comida, higiene pessoal e utilidades.
Fui a um supermercado e gastei NPR2.300, BRL63, com comida.
-2,250 l de leite de soja em caixinha
-12 barras de cereal
-2 pacotes de granola/cereais
-2 pacotes de castanha de caju
-1 embalagem de pasta de manteiga de amendoim


Pode parecer bobagem, mas esses itens vão me fornecer proteína e demais vitaminas que faltam na comida do orfanato. O que me chateia é que eu tenho a oportunidade de sair e comprar essas coisas, enquanto as crianças ficam “presas” e se alimentam apenas de arroz e alguns poucos vegetais.

Conversei com um dos responsáveis pelos projetos sobre a alimentação das crianças. Me disse que é uma questão cultural, a resposta que eu já esperava, mesmo assim,  retruquei, e falei que no orfanato, todos estão em fase de crescimento, então precisam de uma alimentação balanceada para desenvolvimento do corpo e também da mente. Se o que falei foi ou não em vão, pelo menos estou tentando fazer minha parte, mostrando novos horizontes.


Encontrei com meus amigos no hotel e fomos para uma pizzaria chamada Fire and Ice Pizzeria. Comi bastante e de lá fomos para alguns bares, mas como estava bem cansado, resolvi voltar por volta das 23:00 e fui dormir.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Dia 112 - Lamatar, dia 4

Mausam fazendo
macaquices
Choveu a noite inteira e boa parte da manhã. Com isso, andar até o ponto de ônibus seria uma tarefa lamacenta, então deixei para ir a Kathmandu no sábado, pela manhã. Outro motivo é que eu não estava muito confortável em ir hoje. Tento seguir minha intuição.

Li bastante pela manhã, ajudei as crianças nos seus deveres de casa e tomei a tabuada de alguns deles. Um dos meninos é tão, mas tão peralta (não quis chamar a criança de encapetada, pra não deixar ofender o cramulhão), que tenho a audácia de dizer que ele é o meu preferido. Ele se chama Mausam e tem 8 anos, mas por ser muito pequeno, parece que tem uns 4. O sorriso cheio de “janelinhas” dele é a coisa mais encantadora e autêntica, além de ter uma energia e disposição de 25 pilhas Duracell.

Para variar um pouco, fomos todos jogar bola e, durante o jogo, depois de 112 dias, minha havaiana arrebentou. Maldito chinelo vagabundo! Comprei uma edição especial da Copa do Mundo, uma semana antes de embarcar e a porcaria do chinelo já estragou. Utilizei o velho recurso técnico de colocar um grampo de cabelo para segurar a tira do chinelo. Vou continuar assim, até poder comprar algo decente.
Toda sexta-feira, após o jantar, as crianças rezam, cantam e dançam em uma espécie de cerimônia hindu.

Como foi minha primeira sexta, me convidaram para dançar também, e eu, que quase não gosto de fazer bagunça, aproveitei.

Fomos dormir e decidi que acordaria cedo no dia seguinte, para ir a Kathmandu, pois teria menos trânsito e não estaria muito quente.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Dia 111 - Lamatar, dia 3

Quando leio que estou no dia 111, tomo o maior susto. Enquanto os primeiros dias passam lentamente, os demais voam!
Kat jogando bola com Sugam
Acordei e recebi o telefonema de um grande amigo, Márcio, que mora na América – ah, a América... Conversamos por quase meia hora e quando desligamos o telefone, me senti bem melhor.  Amigo não é só pra festas e farras, mas também para nos apoiar, quando precisamos de ajuda. Não imagino uma maneira melhor de começar o dia do que essa.

Conversando com a Kat, resolvi passar o final de semana em Kathmandu, em um hotel, para aliviar um pouco a barra, além de comprar mais suprimentos para os próximos dias. O coordenador do projeto, um camarada de 23 anos, que nem sabe quando está com fome, deu o aval, e já combinei com meus colegas de nos encontrarmos la em Kathmandu. O único porém, é que tenho que pegar 2 transportes (lembrando que não uso a palavra ônibus) e gasto mais de 2 horas para chegar no centro da capital; um suplício, mas vale a pena.

Minha intenção é também comprar uma bota que dure de agora, até o inverno alemão. Como por aqui é época de chuvas fortes, meu tênis Nike, que está precisando ser jogado fora, só serve para proteger meu pé das sanguessugas, mas fica todo molhado.

As refeições do dia, nem preciso dizer que foram arroz, legumes e arroz. As crianças e adolescentes são bem franzinos, provavelmente por conta da alimentação nada balanceada, mais por uma questão cultural, do que falta de alimento. Além disso os dentes são um horror, e meninos de 7 anos de idade tem cáries em todos os dentes.  Esse problema assola os adultos também, que eu nunca vi nenhum deles escovando os dentes. Além da higiene bucal não ser adequada, a água daqui não tem flúor, como no Brasil, algo que contribui imensamente para a manutenção dos dentes. A questão de cuidar bem dos dentes é um ponto muito positivo que o Brasil tem, já que até países da Europa, consideram isso secundário e os tratamentos são caríssimos.

Sugam, Mausam e Manip
Sorrisos a parte, tive um dia tranquilo, joguei bastante bola com a molecada e mais tarde, outros três chegaram de Kathmandu. Eles tem entre 14 e 16 anos, e ficam me perguntando sobre o Brasil, futebol, o que eu faço da vida e tudo mais que se possa imaginar. Todos com uma cara super boa e interessadíssimos em me conhecer melhor.


Sinto que por enquanto, minha missão aqui, por agora, é simplesmente estar presente, seja brincando, conversando, ou ajudando nas lições. Assumo que fico com a consciência pesada de passar um final de semana inteiro longe daqui, já que, apesar de parecer muito, tenho apenas 6 semanas de convivência com o pessoal.
Reassisti aos últimos episódios de “How I Met Your Mother” com a Kat, e fomos dormir

 
 
Blogger Templates